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Testemunhos de universitários – Lisboa - Caminhar muda tudo. Walking changes everything

CO-LAB WALK MY CITY FREE

Depoimentos de estudantes universitários de Lisboa

“Ser mulher / ser homem a andar a pé na cidade”

Nove estudantes universitários, todos de áreas da Comunicação, abordam a experiência de andar a pé em Lisboa. Oito são mulheres, entre os 18 e os 25 anos.

Destaques

Suíla, 25 anos

“Gostava que quem tem o encargo de garantir a segurança dos cidadãos experimentasse percorrer o trajeto que todas as noites tenho de cumprir entre a estação de Metro do Colégio Militar e o quarto onde vivo.”

 

Carolina, 18 anos

“São raras as viagens em que não levo comentários de objetificação ao meu corpo ou em que os próprios olhos dessas pessoas não se encarregam de o fazer.”

Iza, 20 anos

Sinto-me relativamente segura andando pelas ruas de Lisboa em relação ao que sentia nas ruas do Brasil. Acredito que tenho sim mais liberdade em Lisboa, principalmente á noite, dado ao facto que no Brasil nunca tive dada liberdade.”

Luna, 23 anos

“É horrível sentirmo-nos comidas com os olhos de pessoas inapropriadas.”

 

Rodrigo, 21 anos

“As únicas alturas em que me sinto 100% seguro na cidade é no decorrer do dia.”

Petra, 22 anos

“Ver nas ruas n polícias transmite-nos uma certa segurança ao andarmos pelas ruas de Lisboa, seja de noite ou de dia” 

Deana, 23 anos

Lisboa, tal como Portugal aparecem-nos, orgulhosamente como lugares seguros. No entanto, apesar de ser relativamente seguro em comparação com outros países da Europa, casos de assédio persistem nas ruas.”

 

Micaela, 23 anos

Não sou por uma vida policiada, mas é precisa transformação das mentalidades orientada para o respeito pelas pessoas.

 

Lara, 23 anos

A polícia na rua, por si só, não é um factor de tranquilidade, pode ser o contrário. O que era bom é que houvesse caminhos francos para quem vai a pé. Sou completamente a favor de haver câmaras de vigilância.”

Análise aos testemunhos

Os depoimentos de 9 estudantes convergem na constatação de falta de liberdade para caminhar com satisfação e segurança nas ruas, especialmente à noite e em zonas sem outras pessoas no terreno.

É manifestado que a presença policial não é, necessariamente, fator de confiança.

Há quem até prefira que o percurso não tenha iluminação de modo a passar sem dar nas vistas.

É defendido que o planeamento urbano desenhe percursos abertos “sem armadilhas” para quem se move a pé. Há quem defenda a colocação sistemática de câmaras de vigilância, que podem ser dissuasoras. Há desejos de comércio aberto durante a noite para que o povoamento possa gerar confiança.

Há grande convergência na necessidade de a educação dar atenção especial ao respeito pelo outro, de modo a mudança de mentalidades.

É constatado que o sentido de proteção funciona entre algumas comunidades minoritárias, mas está ausente na sociedade em geral.

Depoimentos integrais dos 9 estudantes

 

 

 

Suíla, 25 anos, estudante universitária de Multimédia

Gostava que quem tem o encargo de garantir a segurança dos cidadãos experimentasse percorrer o trajeto que todas as noites tenho de cumprir entre a estação de Metro do Colégio Militar e o quarto onde vivo a cerca de 800 metros. Tenho de vir a pé, por volta das 11 da noite. Faço o percurso de cabeça em baixo, para fingir que não vejo. Mas sinto o que se passa. Sobretudo ouço. Confesso que às vezes até me rio por dentro. Mas há vezes em que tremo de medo. Não digo que me sinto insultada porque o insulto é de quem o profere. Mas custa ouvir como ouvi esta semana: “Dás-me uma f…, dou-te 20€”. Foi assim mesmo e episódios do tipo deste repetem-se. Tomei nota da matrícula do carro mas já tenho experiência bastante para saber que nada adianta participar.

Tenho medo de algum dia perder a cabeça e pontapear um desses repugnantes.

Os meus pais são de Cabo Verde. Sou portuguesa crioula. Quase sempre esses repugnantes que tentam abordar-me referem a cor da pele: pretinha, escurinha, monhé. Há tantos repugnantes na rua.

Petra, 22 anos, estudante universitária de Comunicação

Lisboa, o outro mundo. Para quem vem da Madeira como eu, tenho estado a observar cada detalhe teu, cidade de Lisboa, e realmente ver se a fama que tens pertence-te.

Avisaram-me sempre que tivesse cuidado quando andasse pelas tuas ruas, pelos teus becos, pelos teus transportes públicos, pelas tuas pessoas… mas ainda não me deparei com essa tua difamação. Não quero acreditar que Lisboa, a nossa Lisboa, fosse comparada como o Brasil! Com o perigo do roubo, com o abuso, com as drogas, com as armas brancas… mas na verdade acabo por saber que em todo o mundo isto é uma realidade… não é só tu que passas por isso, querida Lisboa! Uma das coisas que mais me deixou incomodada, foi numa noite de inverno, um frio de rachar e passar em plena Avenida da Liberdade (provavelmente umas das minhas avenidas preferidas de Lisboa), e deparar-me com inúmeros caixotes de cartão misturados com panos velhos. questionei-me inúmeras vezes como é que aquilo ia ali parar! Quando o meu instinto de jornalista se liga automaticamente e fico a observar cada detalhe…cada movimento… e deparo-me com a pobreza, instalada numa das avenidas mais avantajadas de Lisboa! Como é que isto é possível nos dias de hoje? Segui… sem medo… mas com uma enorme necessidade de poder ajudar aquelas pessoas. 

Em tempos de pandemia, onde não há turismo, não há também aquele perigo que se falava antes, de andarmos nos meios de transportes e sermos roubados ou até mesmo durante a luz do dia nas ruas mais conhecidas e cheias de pessoas de todo o mundo. Eu falo, pelo menos por mim. Na qual fui avisada demasiadas vezes para ter esse cuidado redobrado e até hoje não apanhei nenhum susto e ainda bem! Mas se realmente existe, há que tomar medidas sérias e cuidados quanto ao risco que pode ocorrer na população. Uma coisa que ainda não vi aqui e que vejo na minha Madeira são polícias “n” polícias! Uns de bicicleta, outros a pé, outros de carro… acho que isso transmite-nos uma certa segurança ao andarmos pelas ruas de Lisboa, seja de noite ou de dia! 

Carolina, 18 anos, estudante universitária (Comunicação e Sociedade)

“Sua gata” “Fazia-te de várias formas”, exemplos de comentários que ouço acompanhados de vários assobios chamativos, que tento ignorar enquanto caminho apressadamente para o meu destino, com a cabeça voltada para baixo, como se esta fosse a melhor maneira de me abstrair desta realidade já bastante normalizada. Esta situação não acontece nem uma vez por ano, chegando ao ridículo a suposição de poder acontecer apenas uma vez por mês. É raro o dia em que é inexistente. Não acontece apenas nas zonas intituladas de “mais perigosas”, mas também naquelas em que ninguém pensaria nessa opção. Também se pensa que ocorre apenas nas zonas de baixa visibilidade e com poucos transeuntes. Acontece até nos locais mais iluminados e recheados de pessoas. A iluminação e a população que frequenta esses espaços não é um fator. O verdadeiro fator a considerar é quem nos faz sentir inseguros. Estas pessoas não planeiam o melhor espaço, analisando cada uma das suas características, para revelar o seu lado assediante e perverso. Estas atuam onde e quando a sua necessidade assim o pedir, atingindo qualquer pessoa, sendo maioritariamente população do sexo feminino. Moro em Oeiras, mas sempre fui muitas vezes a Lisboa. Durante este último ano, a cidade tornou-se uma paragem obrigatória do meu quotidiano, devido a estudar numa faculdade no Cais do Sodré. Deste modo, faço todos os dias esse caminho pendular, frequentando maioritariamente transportes públicos, nomeadamente o comboio. São raras as viagens em que não levo comentários de objetificação ao meu corpo ou em que os próprios olhos dessas pessoas não se encarregam de o fazer, sem estas terem que dizer uma única palavra. Chegada a Lisboa, a certeza de que irei ser assediada, pelo menos, verbalmente já é uma constante. E o que é preocupante é a normalização da situação. Para uma cidade ser minimamente segura, as pessoas que nela habitam não deveriam banalizar o facto de a sua privacidade ser violada constantemente. Tendo isto em conta, à pergunta referente ao facto de Lisboa ser uma cidade segura, a resposta é um grandioso NÃO. Para Lisboa ser uma cidade segura, era necessário que cada pessoa se pudesse vestir como entendesse, sem se preparar para ser comentada. Era preciso que cada habitante tivesse a liberdade de agir da forma que entendesse, sem ofender ninguém, mas também sem poder ser alvo de críticas. Todos os aspetos que refiro não fazem parte de uma utopia considerada de inalcançável. É apenas a forma de convivência em sociedade. Para esta existir, medidas precisam de ser tomadas. Contudo, medidas eficazes. Não sei até que ponto permitir o funcionamento de estabelecimentos até horas em que o número de clientes já não origina lucro poderá ser uma prevenção a este tipo de situações, visto que são raras as pessoas que decidem agir para defender a vítima de assédio. Quando refiro estabelecimentos e, consequentemente, as pessoas que os frequentam diariamente, não excluo aquelas que assistem a estes acontecimentos numa outra situação qualquer. O cidadão comum não age quando vê alguém a ser atacado, preferindo fingir que não se apercebeu de nada. Este é outro problema a colocar. Outra proposta seria o aumento da carga policial nas ruas de Lisboa? Não sei até que ponto poderia ser eficaz, no caso de estes se destinarem à punição de outros assuntos em vez daqueles que realmente põem em causa a segurança das pessoas na rua. A verdadeira mudança a acontecer não é física e muito menos imediata. Trata-se de uma mudança de mentalidades. Estamos em pleno século XXI e ainda é necessário debater os problemas de assédio nas ruas. Mais do que isso, é preciso ensinar aos agressores que este tipo de comportamento não é correto. Instruir que os seus comentários não são elogios, seja pela pessoa ter decidido que se ia vestir de forma a mostrar parte da perna, seja porque a camisola que usa tem um decote acentuado. Destacar que este tipo de observações, nomeadamente quando está implícito algum teor sexual, são uma invasão de privacidade e que deixam a pessoa em questão numa posição de desconforto inacreditável. Perceber o espaço de cada cidadão e compreender a forma como se deve agir com cada um deles não é algo difícil, muito menos impossível. Para além desta medida, não sei de que forma se poderia garantir a segurança nas ruas de Lisboa. Contudo, sei que é complicado ensinar as pessoas que não têm noção do quanto podem afetar alguém, quando apenas exclamam algo direcionado ao seu corpo. Existem muitos outros problemas que põem em causa a segurança dos cidadãos, mas penso que este é dos mais importantes a considerar e aquele que exige uma resposta mais imediata e eficaz, de forma a proteger a quantidade de pessoas que é afetada.

Deana, 23 anos, estudante universitária de Jornalismo

Lisboa, tal como Portugal aparecem-nos, orgulhosamente como lugares seguros. No entanto, apesar de ser relativamente seguro em comparação com outros países da Europa, casos de assédio persistem nas ruas.

Eram 7h45 da manhã de fevereiro de 2019. Estava na Pontinha à espera do meu autocarro para ir para o trabalho. Eramos 3 na paragem. Eu estava sentada na ponta do banco, que se encontrava vazio e à minha direita estavam outros dois indivíduos de pé.

Como era habitual, o autocarro estava atrasado o que deu lugar para mais pessoas chegarem. Entre eles um homem nos seus 80 anos, que chega e senta-se ao meu lado.

Da forma mais sucinta possível, irei descrever os acontecimentos que se seguiram nos momentos seguintes.

Logo depois de se ter sentado, o homem, de olhos azuis muito claros e vibrantes, olha para mim e pergunta se estou muito tempo à espera. Como quis ser educada, respondi que sim. De seguida, tendo pegado na deixa de conversa, o homem começa a dizer comentários tais como “és tão bonita” deixando um silencio constrangedor no qual eu apenas sorria ligeiramente e tentava olhar para outro lado. Esta já não era a primeira vez que tal coisa acontecia mas nunca deixa de ser difícil contornar a situação no momento.

Poucos segundos depois, pergunta-me o nome ao qual eu respondo “Alice”, um nome inventado no momento. Depois de olhar para mim em silêncio mais uns segundos, agarra-me na mão e tenta beijar-me num gesto de cumprimento. Porém, o beijo foi direcionado à boca propositadamente e de uma forma bastante bruta.

Passado uns momentos, o homem abre a sua mochila e oferece-me uma rosa. A este ponto, já todos na paragem de autocarro tinham notado na sua presença. No entanto, ninguém fez questão de se pronunciar quanto à situação embora eu claramente estivesse desconfortável.

Passados mais uns monólogos constrangedores por parte dele, nos quais me perguntou onde vivia e o que fazia profissionalmente, o homem levanta-se. O autocarro já se encontrava ao fundo da rua.

Pegou na minha mão para a beijar e as suas ultimas palavras foram “Estarei cá à sua espera todos os dias quando vier trabalhar, iremos encontrar-nos novamente, prometo.”

Ao entrar no autocarro, ainda paralisada pelo que tinha acabado de ocorrer, sentei-me à janela e encostei a cabeça ao vidro. Foi aí que reparei que o homem dirigia-se à entrada de uma escola primária.

Esta situação, não aconteceu à noite, mas sim em plena luz do dia, o que torna o acontecimento ainda mais preocupante. Não foi a primeira vez e de certeza que também não será a ultima.

Desde ai fiz queixa à policia mas como esperado, sem obter resultados.

É triste perceber como mulher o quão reais são estes indivíduos. Ainda mais triste é ver o quão preguiçosas são as pessoas, que nada fazem para evitar assédios como este, limitando-se apenas a olhar. Lisboa de repente, pode não parecer uma cidade perigosa. Porém, não deixo de me arrepiar quando estou à noite a caminhar para casa e sinto uma sombra atrás de mim. Não deixo de estar em chamada com o meu pai enquanto me assobiam do outro lado da rua. Não deixo de estender uma mão amiga a alguém que pede algo tão simples como um filtro de um cigarro, para ver-me meses depois novamente na policia a relatar outro caso de assédio sexual.

Mesmo assim, é verdade que Lisboa comparada com outras grandes cidades do mundo, continua a ser um local seguro e talvez tenha tido azar. No entanto, esse azar nem sequer deve ser um fator.

Iza , brasileira, 20 anos, estudante de Jornalismo

 

Sinto-me relativamente segura andando pelas ruas de Lisboa em relação ao que sentia nas ruas do Brasil. Acredito que tenho sim mais liberdade em Lisboa, principalmente á noite, dado ao facto que no Brasil nunca tive dada liberdade. Porém, como mulher, acredito que não consigo sentir-me 100% segura em lado nenhum, seja de dia ou à noite, assim como já fui vítima de assédio no Brasil, já fui também em Lisboa e não acho que a falta de iluminação, falta de polícia nas ruas ou a falta de movimentação nas ruas sejam o problema.

As minorias – mulheres, lgbtq+, negros, imigrantes, etc. – serão sempre vítimas e nunca se sentirão 100% seguras em lado nenhum, principalmente quando estão sozinhas, haverá sempre uma necessidade de autoproteção e uma maior atenção ao nosso redor quando andamos na rua, independentemente da hora, é natural. Acredito que o que mudaria esse sentimento de medo, seria uma mudança na educação e consequentemente, na mentalidade de muitos – homens, principalmente – para que aprendam a respeitar as minorias e também, uma mudança na mentalidade do público em geral para que saibam agir – quando possível – para proteger as minorias mais atingidas quando preciso.

Rodrigo, 21 anos, estudante universitário de Comunicação

Abordando este tema, relativo á segurança na cidade, é importante referir, de forma pessoal, que as únicas alturas em que me sinto 100% seguro na cidade é no decorrer do dia.

Desde o amanhecer ao entardecer, a segurança que sinto é plena, em que, na minha perspetiva, á luz do dia muitas pessoas andam nas ruas para irem trabalhar/passear, considerando mais difícil a existência de um assalto em horas diurnas uma vez que todos os olhos estão postos na rua, níveis de assédio ou discriminação.

Mesmo percorrendo zonas de Lisboa, como a Baixa, em que circulam muitas pessoas de bairros complexos nunca me senti intimidado.

Numa outra vertente, á noite, todos os aspetos que anteriormente referi, tornam-se mais inseguros. Muitas vezes sinto receio porque predominantemente se reúnem grupos perigosos e prontos para atacar, em becos, muitas vezes a grupos estrangeiros por os considerarem mais vulneráveis porque estão num país onde não residem, e onde têm consigo mais dinheiro e pertences apetecíveis a estes grupos perigosos.

Principalmente nos fins-de-semana, época da semana onde a população sai de casa para se divertir, este tipo de grupos está muito atento ao que as pessoas vestem, onde entram (bares/discotecas), com quem vão, para de alguma forma, poderem vir a pensar “Estas pessoas são perfeitas para assaltarmos” ou “Estas pessoas são perfeitas para discriminação”. 

Já fui vítima de discriminação á noite, apenas uma vez, e muitas vezes os grupos que referi vêm pedir-me dinheiro porque olham para a forma como me visto e pensam que tenho dinheiro e pertences e é totalmente ilusório, uma vez que não é o que vestimos nem a cara que temos que faz de nós ter dinheiro ou poder.

Luna, 23 anos, francesa, estudante de Comunicação, em Lisboa

Num bairro de Carcavelos, tal como em St. Nazaire sinto que não posso mexer-me na rua vestida como gosto.

Deve faltar saber educar desde a infância a respeitar pessoas.

É horrível sentir-nos comidas com os olhos de pessoas inapropriadas.

A espera na gare dos trens como na estação dos bus são tempos de desconfiança.

A caminhar nas ruas principais, de dia sigo confiante, mas à noite, quando as lojas e cafés fecham, tenho medo. Já pensei ter comigo algo que faça de arma a proteger. Eventualmente desejaria que a iluminação que é baixa desaparecesse para não ser vista, mas isso é ilusão.

Todas as noites tenho de fazer percurso de 20 minutos. Vou ao celular para estar em contacto com alguém confiable.

Lara, 23 anos, trabalhadora e estudante universitária (Design, Multimédia e Videojogos)

Tenho residência em Vale de Grou, na Sobreda, Almada, na margem Sul do Rio Tejo. Tenho Universidade durante o dia em Santos, Lisboa. Depois, nos dias de semana, das 19 às 23 e aos sábados e domingos, das 16 às 23, trabalho em Loja no Fórum Almada.

De manhã nunca tenho problema exceto o de o transporte ir cheio de gente, o que neste tempo Covid te deixa a pensar como melhor te protegeres.

Mas às 11.30 da noite tenho de andar a pé, cerca de 750m desde o terminal do autocarro até casa. Uma parte, cerca de 300m é um caminho na berma da estrada.

Não costumo aquela hora encontrar outras pessoas a pé. Já me aconteceu mais do que uma vez ter medo dos polícias. O carro policial com 2 ou 3 guardas lá dentro põe-se a rolar devagarinho, quase ao ritmo da minha passada, mas a uns 20 metros para trás de mim. Sei que estou a ser vista e seguida por eles, mas sem qualquer tipo de confiança.

É das situações que mete mais medo. E se eles… não sei.

A polícia na rua, por si só, não é um fator de tranquilidade, pode ser o contrário. O que era bom é que houvesse caminhos francos para quem vai a pé. Sou completamente a favor de haver câmaras de vigilância. Como já me ajudaram na loja, também seriam dissuasoras no caminho.

Micaela, 22 anos, universitária, Jornalismo

De noite, em zonas de Lisboa e especialmente em alguns arredores (vivo entre Prior Velho e Sacavém), quando se vive na pele de uma mulher, o medo cresce em cada rua. As ruas têm pouca vigilância, pouca luz e faltam lugares em que possamos ver um porto de abrigo numa situação de perigo. São inúmeros os casos de assaltos. Sei de agressões e até de apalpões frequentes e mesmo cenas de tentativa de violação. Muitas cenas que acabam por não ter desfechos legítimos para as vítimas.

A capital e a envolvente precisa de uma reforma no que toca à segurança dos seus cidadãos. Não sou por uma vida policiada, mas é precisa transformação das mentalidades orientada para o respeito pelas pessoas. Já me aconteceu estar a ser assediada e pessoas à janela no verão, apesar de verem que eu estava a ser incomodada, não fizeram nada.

Há comunidades que têm o sentido de proteção. Vemos como os ciganos se protegem uns aos outros. Também encontro esse sentido protetor entre comunidades específicas, como os LGBT+ e algumas origens estrangeiras. Falta na sociedade portuguesa esse sentido de proteção do outro.

Era preciso haver caminhos sem armadilhas. Nunca se sabe o que é que está do lado de lá da esquina. Já me aconteceu ser incomodada por um homem que estava encoberto atrás de um quiosque.

Na escola nunca tive aulas sobre o respeito pelo outro género. Deveria haver.

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